NOTÍCIAS
CNJ premia documentário sobre violência contra mulher no campo
22 DE MARçO DE 2022
Isolamento, preconceito, falta de estrutura dos órgãos de Estado, dificuldade de acesso e de comunicação são fatores que potencializam a violência doméstica e contra a mulher que vive em zonas rurais brasileiras. Essas questões, aliadas à falta de estatísticas oficiais sobre o problema, são o tema do documentário “Violência doméstica no campo: agricultoras violentadas”, exibido no programa Repórter Record Investigação, no dia 3 de setembro de 2020.
Produzido e exibido pela TV Record, o registro jornalístico foi o vencedor do Prêmio Juíza Viviane Vieira do Amaral, na categoria Mídia. Criada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a premiação busca dar visibilidade a ações de prevenção e combate à violência doméstica e familiar contra mulheres e meninas. A iniciativa, que homenageia a magistrada carioca vítima de feminicídio em dezembro de 2020, tem ainda o objetivo de conscientizar os integrantes do Poder Judiciário sobre a necessidade de uma atuação permanente para o enfrentamento desse tipo de violência.
Com duração de 60 minutos, o programa premiado conta histórias de seis mulheres que vivem em zonas rurais brasileiras e que dependem da agricultura para sobreviver. Com dores, cicatrizes e temores particulares deixados pela violência dos companheiros, elas compartilham e relatam a insegurança de estar sob constante ameaça, em meio à dificuldade de transporte e comunicação. Vítima de feminicídio, a sétima personagem tem a história contada pelos familiares.
O documentário, que mobilizou duas equipes e 15 profissionais da emissora, viaja por lugares remotos nos municípios de Rio Verde, no estado de Goiás, Simonésia e Governador Valadares, ambos em Minas Gerais. “Demos voz a agricultoras violentadas e esquecidas pelas estatísticas. Além das agressões psicológicas e físicas, essas mulheres ainda sofrem com o abandono do poder público, porque estão distantes dos centros urbanos”, ressalta a jornalista Mariana Castagna Ferrari que, juntamente com Ivandra Previdi, editou o programa.
Vácuo estatístico
Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revela que, a cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil. De acordo com a jornalista, as pesquisas não possuem um recorte específico contra a violência contra as mulheres que vivem nas zonas rurais. Os relatos exibidos, além de chamar a atenção para o vácuo estatístico, enfatizam a necessidade de implementação de políticas públicas específicas para esse grupo de mulheres.
“Ouvimos essas agricultoras e mostramos como é urgente melhorar a segurança dessas vítimas que vivem no campo. A reportagem traz um foco exclusivo e inovador sobre o problema da violência doméstica no país”, destaca Mariana. Ela observa que a gravidade da violência contra a mulher no campo é ampliada pela dificuldade de comunicação e pela ausência, ou dificuldade de acesso, à proteção do estado.
A reportagem mostra a dificuldade para obtenção de socorro para quem vive em áreas isoladas. “Muitas vezes não tem nem vizinho por perto e o pedido de socorro é difícil. Falta sinal de celular para acionar a polícia e pedir ajuda. Quando conseguem contato, as estradas ruins inviabilizam a ação imediata das patrulhas.”
Mariana Ferrari observa que a reportagem mostra que os casos de violência contra a mulher ocorridos no campo possuem um grau de crueldade mais elevado. O programa mostra o caso de uma vítima que teve o dedo da mão arrancado por mordidas do companheiro. “Outra vítima vive em um estado tão grande de insegurança que dorme com uma foice ao lado da cama. Ele chama a ferramenta de livro de cabeceira. É a maneira que ela encontrou para se sentir protegida.”
A jornalista aponta que todo o quadro que envolve a violência contra a mulher no campo é muito chocante, ressaltando que o isolamento e o preconceito inibem as denúncias e busca de proteção. “É uma situação que exige o acompanhamento do poder público. É preciso produzir pesquisas sobre o tema para embasar a formulação de políticas públicas voltadas para essas mulheres.”
Ela ressalta a necessidade de dar visibilidade para o problema como um dos fatores que motivou a realização do documentário. Segundo ela, é função do jornalismo lançar luzes sobre um problema e cobrar ação das autoridades. “O combate ao problema exige a estruturação de delegacias, com mais policiais e mais viaturas para atender os casos. Percebemos também que o atendimento feito por mulheres policiais proporciona mais empatia e segurança para as vítimas.”
A jornalista destaca ainda que o reconhecimento do trabalho meio do Prêmio Juíza Viviane Vieira do Amaral é muito importante e um estímulo para a equipe. “A honra é grande por ser a primeira edição do prêmio e por homenagear uma magistrada que, infelizmente, foi vítima do crime de feminicídio. Ao abordar o tema na reportagem, buscamos dar visibilidade para o fenômeno e contribuir para que ele seja eliminado.”
Jeferson Melo
Agência CNJ de Notícias
Assista a íntegra do documentário
The post CNJ premia documentário sobre violência contra mulher no campo appeared first on Portal CNJ.
Outras Notícias
Portal CNJ
CNJ amplia Campanha Sinal Vermelho para cartórios
09 de março de 2022
A Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou uma recomendação aos cartórios para a...
Portal CNJ
Grupo busca aprimorar ação do Judiciário no ambiente de infraestrutura
09 de março de 2022
A importância da contribuição do Poder Judiciário para garantir segurança jurídica e estabilidade econômica...
Portal CNJ
Plataforma Digital tem manutenção programada nesta quinta-feira (10/3)
09 de março de 2022
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai realizar nesta quinta-feira (10/3), das 21h às 23h30, manutenção...
Anoreg RS
Advogada consegue acrescentar sobrenome do marido antes daqueles referentes à ascendência parental
09 de março de 2022
Membro do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM, uma advogada que antes assinava Rafaela Ruth...
Anoreg RS
Artigo – MP 1.085 e o Monstro de Horácio
09 de março de 2022
Dobro-me à tarefa de interpretar e conjugar as disposições contidas na Medida Provisória 1.085/2021, baixada no...