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Para representantes de quilombos, falta do reconhecimento do direito à terra gera invisibilidade social
17 DE NOVEMBRO DE 2023
A falta de titularidade e de registro dos territórios quilombolas e os desdobramentos da questão para os integrantes dessas comunidades, que ficam sujeitos a violência, a ameaças e carentes dos benefícios de políticas públicas, justificaram queixas recorrentes durante a audiência pública que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promoveu, nesta sexta-feira (17/11), em Brasília. Com os relatos de dificuldades, que vão contribuir para a preparação do relatório final de um grupo de trabalho (GT), vieram manifestações acerca do trabalho do Sistema de Justiça para o reconhecimento do direito à terra.
Na primeira parte da audiência, 28 pessoas apresentaram contribuições que podem auxiliar o colegiado dedicado ao estudo e à elaboração de propostas para a melhoria da atuação do Poder Judiciário no processamento de ações a respeito da posse, propriedade e titulação de territórios tradicionais envolvendo comunidades quilombolas e a preservação de seus documentos e sítios detentores de reminiscências históricas. O GT Quilombola, criado em julho de 2023 pela Portaria CNJ n. 189, busca aprimorar os instrumentos de monitoramento da atuação da Justiça na garantia dos direitos dessa população, que o censo de 2022 identificou ser de 1,327 milhão de pessoas.
“É preciso que nós, do Sistema de Justiça, saiamos dos gabinetes e procuremos a justiça, efetivamente, juntos com a sociedade, ouvindo a sociedade, trazendo, assim, maior justiça social e equidade”, avaliou, durante o evento, o coordenador do grupo de trabalho e o conselheiro do CNJ, ministro Vieira de Mello Filho. “Esse é um momento em que nós, do Conselho Nacional de Justiça, do Sistema de Justiça, abrimos as portas para as comunidades quilombolas deste país”, complementou.
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Proteção
Entre os relatos apresentados pelos participantes da audiência pública, diversos testemunhos que atestam o quanto o não reconhecimento do direito à terra implica na invisibilidade social. Além da burocracia, da falta de assistência, de recursos e de apoio institucional para o acesso a direitos básicos e constitucionais, as reclamações se fundamentam na atuação de empresas mineradoras, agropecuárias, fazendeiros e grileiros. As cobranças, então, foram pela ação do poder público para o cumprimento de leis, inclusive para a proteção contra ameaças que atentam contra a integridade física e a vida de líderes e das suas famílias.
“Não queremos vingança, queremos viver em paz nos nossos territórios e pensar formas de sobrevivência”, afirmou a represente da Federação Nacional das Associações Quilombolas (Fenaq), Lara Luísa. “A gente quer que os órgãos públicos, tanto federais quanto estaduais, mantenham uma ligação direta com as comunidades e com as suas lideranças para a ação ser mais efetiva, mais coordenada”, manifestou o coordenador estadual no Amazonas da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). “Sem isso, ficamos desamparados, expostos à negação da nossa existência por fazendeiros, garimpeiros, mineradoras, posseiros e até mesmo por prefeituras”, alertou.
Outras contribuições vieram de defensores públicos que compartilharam experiências inspiradoras, na avaliação do ministro Vieira de Mello Filho, para aproximação do sistema de Justiça com a população. “É comum encontrarmos comunidades tradicionais ilhadas em meio a campos de soja com milhares de hectares, onde só é possível chegar por estradas vicinais com mais de vinte quilômetros extensão”, contou o Jean Carlo Nunes Pereira, que atua no Maranhão. “Sequer há uma educação quilombola, que permita à pessoa se reconhecer e lutar pela titulação coletiva, daí que precisamos aquilombar a sociedade brasileira”, disse o colega da Defensoria Pública de Alagoas, Isaac Vinícius Costa Souto.
Acompanhamento pelo CNJ
A realização da audiência foi proposta pelo Grupo de Trabalho criado pelo CNJ, por meio Portaria n.189/2023. O Conselho realiza, ainda, o acompanhamento de casos de violência de lideranças como o assassinato da Mãe Bernadete, cujo processo é monitorado pelo Observatório das Causas de Grande Repercussão, grupo composto por representantes do CNJ e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
1ª Jornada Justiça e Equidade Racial
A audiência pública está inserida na programação da 1ª Jornada Justiça e Equidade Racial: Valorizando Raízes, Transformando Futuros, iniciativa do CNJ juntamente com os tribunais superiores, com sede em Brasília, para o debate e a promoção de medidas voltadas à ampliação do acesso de pessoas negras à Justiça, com o combate ao racismo estrutural, e de sua representatividade nos quadros funcionais do Judiciário.
A Jornada acontece em Brasília, entre os dias 13 e 28 de novembro de 2023, com programação no CNJ e no Supremo Tribunal Federal (STF), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Tribunal Superior do Trabalho (TST) e no Superior Tribunal Militar (STM).
Reveja a audiência pública no canal do CNJ no YouTube
Texto: Luís Cláudio Cicci
Edição: Jônathas Seixas
Agência CNJ de Notícias
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